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A NOBREZA E A TAUROMAQUIA

Escrever sobre o título em epigrafe, não é efectivamente fácil, pois as ligações que sempre existiram entre o mundo dos toiros e a nobreza, têm muitos factos de história que, como todos sabemos, dão azo a várias interpretações.

Para não irmos muito atrás da nossa história, poderemos ver o que acontecia nos séculos XVIII e XIX em Portugal bem como na maioria dos países europeus (também designados por casas reinantes), porque muitos dos actuais países eram reinos, ai havia 3 classes distintas entre a população: clero, nobreza e povo. A nobreza que era não só constituída por pessoas que tinham títulos nobiliárquicos ( Duques, Marqueses, etc.), mas que também tinha também em seu redor dois grupos de pessoas com quem privava no seu dia a dia bastante distintas: os fidalgos, que eram  de famílias distintas com nome e posses e o povo, que parecendo estranho falar nele, iremos verificar como está tão ligado à nobreza neste assunto de toiros.

Esta classe social era na altura detentora de grandes privilégios, bem como de extensas áreas de terrenos, poderemos falar sem exagero de milhares de hectares, embora nessa altura não se falasse dessa palavra-hectare- atendendo a que como disse as zonas serem bastante extensas. Para se ter uma ideia de extensão, os Duques de Aveiro e Bragança eram detentores de áreas que equivaliam a cerca de ¼ do país. Nessas extensas propriedades os seus proprietários criavam cavalos,  toiros, além de outros animais. Uma das razões era porque para as batalhas que nessas alturas se travavam eram necessários cavalos, pois a nobreza só combatia com esses animais, e também porque eles acabavam por puxar o armamento existente na altura.

É por essa razão que a nobreza e os fidalgos se dedicam ao toureio a cavalo nestes intervalos entre batalhas. Existem documentos que comprovam o grande entusiasmo pelo toureio de reis como, D. João V e D. João VI havendo registos de corridas de toiros na actual Praça do Comércio.

Quando atrás referi o povo e a sua ligação à nobreza, ela existe pela necessidade de haver pessoal para trabalhar no campo, neste caso com os animais. Ora, era necessário na altura como hoje o é por razões um pouco diferentes, marcar o gado – ferrar – na altura mais pelo extravio das reses, pois as propriedades não eram vedadas como hoje o são, se nos lembrarmos da nossa juventude, o mesmo se fazia no século XIX nos E.U.A. pelos famosos cowboys, em que a marcação do gado existia mais pela razão do roubo.

Ora para se ferrarem os animais, era necessário agarrá-los e é neste campo que começam as ligações do povo com a nobreza, mais assiduamente e com caracter não só de trabalho mas também para se sobressaírem e se valorizarem em relação a outros. As rezes eram esperadas de braços cruzados e quando passavam agarravam-nas de lado, mais parecendo uma cernelha actual, mas em que se agarravam os cornos do animal com o intuito de o derrubar para se proceder então à marcação ou ferra.

A nobreza e os fidalgos tinham nesta época uma fama e proveito da sua boémia e normalmente quando estes trabalhos terminavam seguiam acompanhados do pessoal de campo – povo – para essas festas. Festas essas onde o vinho jorrava em abundância bem como também as mulheres de vida fácil. Esta interligação entre nobres, fidalgos e povo  começa a estreitar as relações pessoais. Como atrás se descrevia na marcação do gado, esses rapazes que o faziam tinham um nome de “ mancornadores “, termo que vem a dar origem depois aos hoje chamados “Grupos de Forcados “, a simbiose que se começa a dar em finais do século XIX principio do XX é cada vez mais notória. Os fidalgos mais novos começam também a entusiasmarem-se com estas actividades, juntando-se em grupos que ocasionalmente quando havia corridas de toiros acabavam por fazer o que hoje chamamos pegas.

Com a implantação da Republica, as 3 classes desagregam-se por completo, acabando por deixar de existir, contudo ao longo do tempo continuamos com algumas famílias nobres ligadas ao mundo dos toiros como artistas, e se me é permitido dizer uma somente como exemplo, podemos agarrar na Família Mascarenhas, de que nasceram cavaleiro tauromáquico e um lote enorme de forcados.

Penso ter dado uma pequena síntese da ligação entre nobreza, fidalguia, povo e toiros. Muito mais haveria para escrever.

Termino com um agradecimento a quem me convidou para escrever este pequeno texto e com uma frase mítica VAMOS AOS TOIROS!

 

CARLOS DE ALMEIDA FERNANDES 2013

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