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NACOS DE HISTÓRIA

Era uma vez... 
Como é por demais sabido, raro é que uma história de mistério e fantasia, não comece por um - Era uma vez..
Acontece que a génese do acto de pegar toiros, manifestação impar nas tauromaquias, não pode passar por tal começo, que cabe nas estórias, mas que vicia a história.
Variados autores, de créditos e reputação firmada, têm repetidamente escrito que os grupos de forcados têm origem no alabardeiros que guardavam a escadaria de acesso ao camarote real, segundo uns, e, segundo outros nos monteiros da choca, diz-se que indivíduos que campinavam de anta vestidos, material tão rijo quanto as barras dos corpetes das elegantes matronas dos inícios do séc. XVIII.
Têm desenvolvido tais teorias talentos das letras históricas taurinas como Jayme Duarte d`Almeida, Mascarenhas Barreto ou Chaubet (como o fez no seu "Á unha", apesar de o ter avisado no erro em que incorria...), o que não invalida que abdique das minhas razões, até porque João Pinto Ribeiro nas suas "Dissertações" afirmou, sem que ninguém até hoje o conteste que "não basta escrever a história em boa frase, é necessário que o seu fundo seja exacto".   É certo!
Ora vejamos.  Basta que se atente no que é uma alabarda para de imediato considerarmos que tal arma branca mata e é por demais evidente que actuando em grupo os alabardeiros, poucas hipoteses existem de terem desenvolvido tal arte.
Por outro lado, não consigo imaginar indivíduos vestidos com armaduras de coiro  -os monteiros da choca-  agilizarem os seus gestos para convenientemente executarem a função.   Por tudo isto, temos que buscar razões nas verdades históricas, já filtradas pelo tratamento académico, sabido que só a investigação universitária dá carta de alforria de supostas verdades.
Manda o bom senso que se situe o acto de pegar toiros em duas atividades de ontem e de hoje  -na actividade venatória e no maneio ganadeiro.
Já no reinado de Don Afonso III (material documental hoje na torre do tombo, depois de transferido da arquivística da então direcção geral dos produtos florestais), uma postura determinava qual o numero de lacaios por que se podia fazer acompanhar cada fidalgo no alanceamento de ursos e toiros na serra da Arrábida.   Curiosamente oito, ainda hoje o número de forcados que se apresentam em praça para pegar um toiro, sendo que eles eram comandados por um cabo, tal como acontece em nossos dias.
A coisa tem lógica.  Os toiros não se comem vivos, alanceados ficavam "matados" que não mortos e havia necessidade de os agarrar (pegar...) para os matar, esquartejar e carregar, porque como é por demais evidente, tal acervo proteico não era  dispiciendo.
Esta sim, é uma origem lógica do acto de pegar toiros, de certo modo documentalmente provada.
Por outro lado,  também devemos considerar a transposição da ruralidade para o meio urbano, no fundo o início da "corrida".
Se é que o que distingue a vulgar criação bovina de uma ganadaria brava é o registo genealógico, desde que os monges do Monte da Barca cerca de Coruche começaram a registar a proveniência do "gado da terra" que recebiam como congrua, foi necessário marcar todas as reses, que em tempos que não havia aramados, não raro se misturavam com gados vizinhos.     Quer a "ferra", quer as apartações, justificavam o despontar de talentos entre os moços rurais, sendo que os que se distinguiam, socialmente eram valorizados e até promovidos no tecido social.
Quando, como em todas as tauromaquias, o campo se desloca à capital, também o acto de pegar toiros acompanhou tal tendência e se reafirmou no sentir  das gentes, evoluindo até ao presente, com mudanças que não vêm agora á despesa da conversa, por se tornar muito longa.
Sobra só que vos afirme sobre a genuidade do acto de pegar da lusa gente que já  Dom João II  enfrentou e pegou de caras um toiro em Alcochete.
Calhando, voltaremos ao tema, muito extenso como se deduz.

Domingos da Costa Xavier   2013

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