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“… E assisti numa corrida à portuguesa
  Toda a beleza do toureio Marialva…”
 
 
No final da corrida de encerramento da feira de Vila Franca, em que o cavaleiro Antonio ribeiro Telles se encerrou com seis toiros de várias ganadarias, veio-me à memória este fado cantado pelo saudoso Manuel de Almeida, que muitas vezes trauteei…
 
Na verdade, foi a beleza do toureio Marialva, esse regresso às práticas ancestralmente estabelecidas que António Ribeiro Telles nos fez reviver nesta noite memorável, em Vila Franca.
 
António encarnou as virtudes da forma portuguesa de tourear a cavalo. O rigor e a exigência na forma de trajar, no aparelhar de no arranjo dos cavalos, nas sortes onde o cite, a viagem, o levantar bem o braço no momento de cravar, fazendo-o de alto a baixo e sempre que possível reunindo ao estribo. Podem nem sempre as reuniões resultarem matematicamente ao estribo, como vem nos livros…mas a verdade é que toureio não é matemática…quanto muito seria estatística e a trabalhar com níveis de confiança entre os 95 e os 98 por cento. Depois, rematar as sortes com o cavalo a rodar bem pelo piton direito do toiro. Tudo sem correrias, antes com temple e o ar senhorial, mas despretensioso, de quem tem a nobreza no coração. Numa frase: Os bons ensinamentos recolhidos na Universidade da Torrinha onde Mestre David é Reitor.
 
A presença de Mestre David, figura tutelar da família Telles, na Palha Blanco contribuiu para dar ainda maior grandeza ao espectáculo, pois os aficionados não esquecem o seu legado, materializado não apenas nos ensinamentos que transmitiu aos seus filhos, como naquilo que transmitiu a grande parte dos cavaleiros de alternativa de várias gerações que se formaram em sua casa.
 
António recordou a todos os aficionados presentes que a Arte de Marialva, não está decadente. Evoluiu na arena com a classe dos melhores discípulos do Marquês. A sua prestação em Vila Franca revelou-nos um cavaleiro pujante, com uma ânsia jovial, alguém que, dir-se-ia, estar no início de uma carreira promissora. Bem montado e com soluções para todos os tipos de toiros, pois António foi também um lidador. Não se limitou a cravar ferros emocionantes, antes toureou e os ferros surgiram como corolário de toda uma preparação, levando sempre em linha de conta as características, as querenças de cada toiro e elegendo sabiamente os terrenos para consumar as sortes.
 
Quando chamou os seus sobrinhos para partilhar o êxito, vimos em Manuel Ribeiro Telles Bastos a continuidade de António e em João Ribeiro Telles Júnior a evolução que, por certo, fará o orgulho do Marquês de Marialva lá do “Olimpo” dos cavaleiros tauromáquicos de onde, na terça-feira, presenciou as várias lições de toureio proferidas na centenária Palha Blanco.
 
Para o ambiente de êxito vivido muito contribuíram também as heróicas actuações dos forcados amadores de Vila Franca. Elegância e valentia marcaram as pegas de Ricardo Castelo, Bruno casquinha, Pedro Castelo, Rui Godinho, Ricardo Patusco e Márcio Francisco.
 
Lidaram-se seis toiros de Victorino Martin, Murteira Grave, David Telles, Pinto Barreiros, Vale do Sorraia e Passanha. Bem apresentados no geral, mereceram nota alta os de Grave, David Telles e Passanha.
 
O público rendeu-se a António Ribeiro Telles e este retribui-lhe na mesma moeda. Resultado: Apoteótica volta à arena aos ombros do seu sobrinho António Telles Bastos envolvido pela totalidade da sua equipa de trabalho, pois todos eles foram participantes deste êxito. Um triunfo que António Ribeiro Telles repartiu com seu pai, irmãos e sobrinhos, quadrilha, campinos e restantes intervenientes no espectáculo, espectáculo esse que tão cedo não se apagará das suas memórias nem das dos aficionados que tiveram a sorte de a presenciar.
 
JOSÉ DIAS
 
 
 

A apoteose do Toureio Marialva

GALERIA DA ENCERRONA DE ANTÓNIO RIBEIRO TELLES EM VILA FRANCA DE XIRA

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